Uma tonelada por dia

Meus cúmplices são os negros de todas as raças. 
Heiner Müller
por Luiz Fernando Lobo
Pretos, meus irmãos.
Num dia do ano de 1999 recebíamos o público para mais uma função do espetáculo Companheiros, no Teatro Glauce Rocha, quando chegou o Padre Ricardo Rezende. Eu o cumprimentei e agradeci sua presença, ele ficou um pouco surpreso. Nós não nos conhecíamos. Ou melhor, ele não me conhecia. Eu acompanhava sua luta contra o trabalho escravo. Já éramos companheiros. Naquele dia nasceu uma amizade e, sem que eu soubesse, começava a história deste nosso espetáculo. No ano seguinte quando montamos Morte e Vida Severina, Ricardo foi conversar com o elenco sobre a realidade do trabalho escravo no Brasil. O elenco ficou perplexo. Trabalho escravo não era força de expressão. Ao contrário, eram dados concretos e alarmantes: a escravidão contemporânea.